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Impactos do COVID-19 na Indústria de Ingredientes de Personal Care

COVID-19 no Brasil


O número de casos de COVID-19 registrados no Brasil (mais de 200.000 em 14 de maio de 2020) representa 960 casos por milhão de habitantes, quase o dobro da média global de 570 casos por milhão. A distância geográfica e a experiencia de outros países especialmente da Europa, permitiu ao Brasil iniciar a política de distanciamento social em estágios mais precoces da pandemia. No entanto, a aproximação do inverno intensifica a ocorrência de casos e permite prever que o pico da epidemia ainda está por vir.


Em 20 de março, o Estado Brasileiro reconheceu Estado de Calamidade Pública devido à pandemia o que permitiu flexibilização orçamentária e desencadeou uma série de medidas protetivas por governos regionais e locais. Entre estas medidas destaca-se as referentes ao distanciamento social como a suspensão de aulas presenciais em toda a rede pública e privada de ensino; suspensão de cultos religiosos, além de atividades consideradas não essenciais como eventos artísticos, shows e eventos esportivos; fechamento de cinemas, teatros, museus e parques; fechamento de bares e restaurantes, academias e clubes esportivos, além de shopping centers. A exceção são estabelecimentos para comercio de alimentos e medicamentos além de postos de abastecimento.


O Sudeste e, especialmente São Paulo tem sido o epicentro da crise. Ao final de maio, a taxa de ocupação dos leitos de UTI na Grande São Paulo ultrapassa 87%. No mesmo período, o governador de São Paulo João Dória anunciou planos para flexibilizar a quarentena, a estratégia envolve recortes regionais no estado e 5 fases, trazendo assim a reabertura de comércios. Os prefeitos terão a liberdade de mudar a situação de suas cidades a partir do dia primeiro de junho, apesar de especialistas acreditarem que a medida pode estar precipitada, uma vez que a tendência ainda não é de queda de novos casos de coronavírus e o número de óbitos pode não refletir a realidade atual, uma vez que há uma distância temporal entre o paciente ser infectado, internado e morrer. Junto a região sudeste, a região sul também sofreu fortemente os impactos da crise devido a sua dependência do setor industrial e de serviços.


No norte do país, a persistência de problemas como a falta de infraestrutura também afetou negativamente a região. A falta de acesso a água potável no Marajó é apontada como uma das razões para a facilitação na dispersão do vírus: 24,8% da população do município de Breves, que fica na região, tem ou já teve o novo coronavírus. No Nordeste, a retração ocorre de maneira semelhante. Porém, para as duas regiões, espera-se que a menor dependência do setor de serviços e maior das indústrias extrativa e agropecuária levem ao impacto econômico sentido ser menos forte do que no sul ou sudeste. Pernambuco se destaca como o estado em que o número de casos da doença mais cresceu entre crianças: de abril a maio houve um aumento em mais de 200 vezes.


O governo brasileiro agiu no sentido de prover recursos ao setor de saúde com um montante da ordem de R$50 bilhões para combater a epidemia – compra de material para testes, compra de equipamentos de proteção individual, EPIs, compra de respiradores, etc.


Para os cidadãos, o governo disponibilizou recursos emergenciais direcionado especialmente aos trabalhadores informais e de baixa renda, como o pagamento de R$ 600,00 por trabalhador pelo período de 3 meses, R$ 1 bilhão em recursos para pagamento de contas de energia elétrica de trabalhadores de baixa renda, antecipação de parcela do 13º salário para aposentados, crédito pessoal subsidiado em bancos públicos, entre outros benefícios.


Para o setor empresarial, foram disponibilizadas linhas de crédito subsidiadas em bancos estatais para capital de giro, além do adiamento de pagamentos de impostos, recursos para pagamentos de salários a trabalhadores infectados por 15 dias, flexibilização da legislação trabalhista para permitir redução de jornada de trabalho e redução parcial de salários evitando demissões. Como contrapartida, as empresas ficam comprometidas a não fazer demissões para ajuste de custos.


Apesar de todos esses esforços, o impacto do COVID-19 na economia deverá ser bastante expressivo -contração da ordem de 6% a 9% em 2020 quando comparado a 2019, com maiores impactos nas regiões maior predominância da área de serviços em detrimento de indústrias ou agricultura.


Em Boletim Regional publicado pelo Banco Central do Brasil, creditou-se à região Centro-Oeste a posição de região no país que será menos afetada economicamente em virtude da baixa dependência do setor de serviços em comparação ao agronegócio. O mesmo efeito é esperado para as regiões Norte e Nordeste. Outros fatores que contribuem para a menor desaceleração são a safra recorde de soja no primeiro trimestre e o fato de que a maior parte da indústria da região é focada em alimentos e bebidas, que sofrem menos com a crise. Por outro lado, as regiões Sul e Sudeste, mais dependentes do setor de serviços, serão as mais impactadas também do ponto de vista econômico.


Impactos no curto prazo


Com a paralisação de diversas atividades, o mercado já enfrenta diversas dificuldades no curto prazo, com a interrupção das cadeias de suprimento globais como forma de conter a disseminação do vírus, levando à escassez de matérias-primas. Outro choque importante refere-se à demanda, uma vez que consumidores e empresas estão buscando reduzir seus gastos.


O impacto na indústria foi da ponta, do ponto de venda, passando pela distribuição, até chegar na indústria e, consequentemente, no mercado de matérias-primas, embalagens e ativos.


Na ponta desta cadeia, onde está o varejo, algumas empresas tiveram até aumento de receita no curto prazo em função da corrida dos consumidores aos supermercados. As indústrias químicas para os setores hospitalar, cosmético e de limpeza se beneficiam do fortalecimento dos hábitos de higiene e limpeza por parte do consumidor.


Por outro lado, micro e pequenas empresas locais, mesmo no segmento cosmético, estão entre as mais afetadas pelo COVID-19, uma vez que a interrupção da atividade industrial, combinada com uma paralisação severa no setor de serviços, com perfumarias, lojas especializadas e salões de beleza fechados, gera atrasos nos pagamentos, levando cada vez mais empresas a esgotar seu fluxo de caixa. Com isso, é esperado que muitas destas empresas deixem o mercado brasileiro devido aos impactos econômicos do isolamento social.


Mudanças no comportamento do consumidor


O isolamento forçado levou os consumidores a adotar novos hábitos, reavaliar prioridades e mudar seu consumo.

Conforme os consumidores se adaptam ao distanciamento social, surge a necessidade de realizar procedimentos de beleza, como manicure, coloração de cabelo e tratamentos faciais, em casa. Conforme a quarentena se estende, mais e mais consumidores passam a realizar estes serviços por conta própria. Com o retorno das atividades, é possível que uma parcela destes consumidores continue realizando estes procedimentos em casa e reduza definitivamente sua frequência a salões de beleza, clínicas de estética, esmalterias e afins.


Outra questão importante refere-se à segurança dos produtos no que se refere à saúde. O consumidor buscará mais garantias de que os produtos não apresentem riscos e são da mais alta qualidade, principalmente, em se tratando de produtos de limpeza, antissépticos e itens alimentares. No curto prazo, pode haver priorização da qualidade na escolha do produto, e a sensibilidade em relação ao preço pode se tornar menos relevante. Fabricantes e varejistas precisarão comunicar claramente porque seus produtos e cadeias de suprimentos são confiáveis. Em tempos de crise e baixo poder aquisitivo, o consumidor tende a não arriscar, optando por marcas que já são de seu conhecimento e confiança, mesmo que isso envolva pagar um pouco a mais por isso.


Além disso, mais do que nunca, o consumidor está valorizando o propósito da marca. Marcas que tenham um posicionamento verdadeiro serão referência. O interesse principal, neste momento, não está em saber o que a marca tem a vender, mas o que ela tem feito em relação à situação atual. Com a redução da mobilidade e direcionamento das compras para o canal online, é ainda mais difícil que o consumidor brasileiro se arrisque a testar novas marcas de personal care, uma vez este se baseia principalmente na experiência sensorial para realizar a primeira compra de uma marca desconhecida.


Mercado de Ingredientes

Assim como cada categoria do mercado de personal care no Brasil será afetada de forma diferente pelos efeitos da pandemia, o mesmo ocorrerá com as categorias de ingredientes para personal care, que serão impactadas de acordo com os tipos de produtos em que estão presentes.


Categorias resilientes


Surfactantes: são amplamente utilizados na indústria cosmética e de higiene pessoal, correspondendo à principal categoria do mercado brasileiro de ingredientes para Personal Care, com mais de 50% de participação em volume. Sabe-se que os procedimentos de prevenção contra o coronavírus envolvem a higienização constante do corpo e das mãos, e isso estimulará fortemente o mercado de surfactantes na medida em que são o principal grupo de ingredientes utilizado em sabonetes e limpadores. A já mencionada queda no consumo de shampoos durante o período de quarentena será, então, compensada por este crescimento na categoria de higiene. O consumidor brasileiro associa muito a espumação do produto com seu potencial de limpeza, e isso pode afetar o mercado no sentido de conduzir a preferência do consumidor a produtos que contenham surfactantes mais fortes e com maior potencial de espumação frente a opções mais suaves.


Conservantes: esta categoria vinha sendo questionada nos últimos anos devido a preocupações acerca dos impactos de alguns conservantes sintéticos na saúde. Isso estimulou a substituição dos parabenos nas formulações cosméticas e sua substituição por opções mais suaves. Com a nova rotina, o tema microbiologia e contaminação se torna ainda mais sensível. Até porque as embalagens podem ser vetores de contaminação de diversos tipos de microrganismos caso não se tome o devido cuidado com sua assepsia e desinfecção. Desta forma, o consumidor dará prioridade a marcas que garantam a segurança de seus produtos contra contaminantes, e isso envolve o uso de conservantes mais potentes. Não se espera que os parabenos retornem aos produtos, mas que as formulações continuem utilizando opções sintéticas, como fenoxietanol, por exemplo, uma vez que apresentam maior espectro de eficácia frente a opções mais naturais e suaves. Porém, sabe-se que uma alta concentração de conservantes fortes pode gerar reações adversas para a saúde. Desta forma, a relação ideal seria conservantes com uma menor agressividade e na quantidade adequada de forma que se consiga manter a atividade antimicrobiana. Por isso, blends entre conservantes sintéticos (mais potentes) e naturais continuarão ainda mais fortes.


Emolientes: amplamente utilizados nas formulações para promover hidratação, este mercado se beneficiará do aumento da demanda por produtos que restaurem a barreira cutânea da pele, conforme o uso contínuo de higienizantes provoca o ressecamento das mãos e o corpo. Este mercado vinha enfrentando uma transição de produtos sintéticos, como óleo mineral, para opções vegetais. Espera-se que esta transição continue ocorrendo, mas em ritmo mais lento, à medida que as empresas busquem reduzir seus custos e, portanto, não busquem apostar em reformulações ou lançamentos muito inovadores, no curto e médio prazo.


Modificadores de Reologia: são amplamente utilizados nos mais variados tipos de produtos, e, portanto, a queda da demanda em algumas categorias não impactará tanto a categoria como um todo à medida que será compensada pelo crescimento expressivo em outras. É importante destacar o caso dos carbômeros, agentes espessantes tradicionalmente utilizados na fabricação de álcool em gel. Com a ampla demanda global por este tipo de produto, somada à redução das atividades industriais, o mercado de carbômeros começou a apresentar faltas nos primeiros meses da pandemia, o que levou o mercado a testar alternativas, como acrilatos, HPMC, HEC, CMC e gomas guar, tara e xantana, para suprir a demanda, e estes ingredientes também começaram a ganhar força.


Categorias mais vulneráveis


Emulsificantes: são utilizados, principalmente, em formulações para cuidados faciais. Esta categoria será afetada pela queda na demanda de produtos premium e sua substituição por opções masstige e de massa.


Polímeros Condicionantes: são amplamente utilizados em condicionadores capilares e sofrerão com a queda, durante o isolamento, do consumo desse tipo de produto.


Pigmentos: diversas formulações utilizam pigmentos para dar alguma tonalidade específica ao produto final. Porém, o mercado de maquiagens é o que utiliza este tipo de ingrediente mais amplamente. Conforme já mencionado, o mercado de maquiagens tem expectativa de queda, durante e após a pandemia, e essa queda na demanda afetará diretamente o mercado de pigmentos. Este segmento vinha passando por uma lenta transformação, com a substituição de pigmentos convencionais por pigmentos de superfície tratada, que traziam benefícios adicionais à formulação, como maior estabilidade e melhorias na dispersão, além de conferir maior qualidade à maquiagem, promovendo melhor durabilidade e espalhabilidade. Mesmo antes da pandemia, essa substituição ainda era muito incipiente no Brasil pela barreira de preço: pigmentos tratados são muito mais caros do que as opções tradicionais, dados os benefícios que trazem à formulação. Com o cenário de crise econômica como consequência do isolamento social, é possível que esta substituição seja, inclusive, invertida, à medida que as marcas tentarão reduzir seus custos, enquanto os consumidores buscarão opções mais baratas.


Fragrâncias: o consumidor brasileiro valoriza muito a fragrância nas formulações de qualquer cosmético, e por isso esse ingrediente é amplamente utilizado por todo o mercado de Personal Care. Porém, o maior volume deste mercado vai para perfumes e colônias, e por isso sofrerá os impactos da queda da demanda durante o isolamento e posterior preferência do consumidor por produtos masstige e mais econômicos em detrimento de produtos premium. Desta forma, espera-se que este mercado seja amplamente impactado em valor nos próximos anos.


Absorvedores de UV: como já mencionado, o mercado de proteção solar, que mais utiliza este tipo de ingrediente, vem sendo fortemente impactado pelo isolamento social, e isso se reflete diretamente no mercado de absorvedores de UV.


Polímeros Fixadores de Cabelos: este mercado seguirá o declínio do segmento de produtos para estilização dos cabelos. Por se tratar de um mercado que já vinha em decadência devido às preferências do consumidor por um visual mais natural, espera-se que este tipo de ingrediente seja ainda mais impactado pelo isolamento social.


Vale ressaltar que, para todas as categorias, espera-se uma redução no valor agregado dos ingredientes. Dada a crise econômica estima-se para o cenário pós-COVID e a consequente redução no poder de compra do consumidor, haverá maior preferência por produtos masstige e de massa em relação a produtos premium. Com isso, é possível projetar que ingredientes mais baratos serão mais utilizados nas formulações no curto e médio prazo, enquanto fórmulas que utilizam ingredientes mais inovadores ficarão em stand-by.


Ativos


O mercado de ativos também terá impactos específicos. Por se tratar de um mercado de alto valor agregado, com ingredientes utilizados mais amplamente em produtos premium, espera-se que este mercado seja afetado negativamente com a crise econômica que afetará o país no pós-COVID.


Por outro lado, ativos já bem conhecidos no mercado e que auxiliem na hidratação e recuperação da pele, como ceramidas, lipídios e aloe vera, podem conseguir se manter nesse período. Além disso, dada a tendência por valorização da indústria local, é possível que ativos de origem local ganhem mais destaque nas formulações.


Nas categorias de ativos botânicos e ingredientes marinhos, pode haver uma maior preferência por ativos sem eficácia comprovada (mais baratos), para utilização “just for claim” e manter o preço mais baixo dos produtos. Categorias que envolvem ativos de maior valor agregado, como biotecnológicos e peptídeos, sofrerão mais com a sensibilidade a preço, e demanda por este tipo de ativo pode diminuir no curto e médio prazo. As categorias de enzimas e coenzimas, proteínas e ativos sintéticos já são relativamente maduras no Brasil, e provavelmente se manterão estáveis nos próximos anos.


Para mais informações, entre em contato com a Factor-Kline.


Fonte: Factor-Kline.



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