A eletrificação dos veículos está transformando a mobilidade Pós-Pandêmico
Tradução do Artigo de Sharbel Luzuriaga, Gerente de Projetos do Setor de Energia da Kline.
Inserida num contexto econômico e geopolítico turbulento, a mobilidade individual está enfrentando dificuldades para se adaptar ao mundo pós-COVID. Neste artigo, Sharbel Luzuriaga, Gerente de Indústria do Setor de Energia da Kline, discutirá como os efeitos colaterais da pandemia – incluindo a falta de suprimentos e pressões inflacionárias – impactaram a taxa de adoção de veículos elétricos, além das implicações diretas disso no mercado de óleos de motor para carros de passageiro (Passenger Car Motor Oils, PCMO).
“No momento em que a pandemia chegou, os veículos de passageiro estavam acabando de entrar na fase de eletrificação”, diz Luzuriaga. “Durante a pior fase da pandemia do COVID-19, as vendas de veículos à combustão interna (Internal Combustion Engine, ICE) se contraíram abruptamente. As vendas de veículos elétricos (Electric Vehicles, EV), porém, continuaram crescendo, principalmente devido à renovação e ao fortalecimento do apoio governamental, além de outros fatores como o fato de que os compradores de EVs foram menos impactados pela pandemia já que as vendas cresciam sobre uma base pequena”. O suporte governamental aos veículos elétricos, entretanto, varia significativamente de um governo para outro, uma vez que cada governo possui um objetivo diferente ao implementar políticas para EVs.
“Os anos 2021 e 2022 registraram fortes vendas de veículos elétricos, ao passo que países europeus, incluindo a Alemanha, a França e o Reino Unido reforçaram sua determinação em alcançar um futuro carbono-neutro, incentivando a compra de veículos elétricos”, diz Luzuriaga. “Com a eclosão do conflito militar na Ucrânia, a Europa enfrentou uma crise energética sem precedentes, levando a preços de combustíveis historicamente altos. Esses eventos revigoraram a decisão de acelerar a transição para veículos elétricos como o futuro mais viável para garantir da segurança energética da Europa”.
Imagem 1. Vendas de veículos elétricos em mercados selecionados. Fonte: Análises da Kline
A: Inclui 14 mercados de países líderes, analisados no relatório Passenger Car Motor Oils Market in 2050: A Long-term Outlook da Kline, mostrados na Tabela 1.
Nos Estados Unidos, o Ato de Redução da Inflação (Inflation Reduction Act, IRA) foi promulgado a fim de mitigar o efeito negativo da pressão inflacionária e impulsionar o emprego; agora, os veículos elétricos são uma área prioritária que deverá se beneficiar significativamente dessa legislação.
Em regiões emergentes, que dependem pesadamente de exportações para países que eventualmente banirão veículos de combustão interna (ICE), fabricantes de carros estão se reinventando e transformando sua capacidade de fabricação de veículos ICE para permitir a produção de EVs, numa tentativa de assegurar competitividade. Atualmente, alguns países estão removendo concessões de compra e incentivando a construção de infraestruturas destinadas ao carregamento de veículos elétricos, em locais prioritários e em comunidades rurais ou de baixa renda. Além disso, estão incentivando a venda de EVs usados.
De acordo com Luzuriaga, esses esforços chegaram para ficar. “A eletrificação é um processo irreversível por diversas razões”, diz ele, “Primeiramente, as Fabricantes de Equipamentos Originais (OEMs) investiram quantidades onerosas de fundos em P&D e na expansão das capacidades de produção e produção de baterias. Segundamente, a eletrificação da mobilidade pessoal faz parte de um plano abrangente com o intuito de atingir neutralidade de carbono até 2050. A fim de alcançar esse objetivo, é imperativo que mais energia renovável seja utilizada para alimentar os veículos elétricos. Terceiramente, os veículos elétricos estão fixados como o “espírito da época”, como a opção preferida e mais responsável aos veículos de combustão interna, de forma que seu uso deve apenas crescer”.
Quem Está Ganhando a Corrida do “Futuro Elétrico”?
Três mercados estão, sem dúvida, liderando o processo de eletrificação: China, Europa e os Estados Unidos. Uma segunda seleção de países – incluindo o Japão e a Coreia do Sul – representará as principais economias desenvolvidas que abrigam as principais fabricantes de automóveis. Uma terceira categoria será constituída de economias emergentes com normas de emissão menos rígidas e menores níveis de apoio governamental à eletrificação, como o Brasil e o México na América Latina, e a Indonésia na região da Ásia-Pacífico. Dentre os países dessa terceira categoria, a Índia se destaca como uma exceção devido ao forte apoio governamental à eletrificação veicular.
Os Efeitos da Eletrificação na Demanda de PCMOs
Os 14 mercados cobertos no estudo PCMO Market in 2050: A Long-Term Outlook da Kline, que deve ser publicado em breve, representam cerca de 70% do mercado global de óleos de motor para veículos de passageiros. “No período de previsão do estudo, alguns desses mercados, incluindo a China e os Estados Unidos, registrarão aumentos rápidos de EVs, particularmente de veículos elétricos a bateria (Battery Electric Vehicles, BEVs)”, diz Luzuriaga. “Inevitavelmente, o crescimento de EVs possui o potencial de reduzir significativamente o consumo de PCMOs, especialmente no caso dos BEVs, uma vez que eles nem exigem óleo de motor”.
De acordo com análises da Kline, o efeito da emergência de EVs na demanda de PCMOs pode ser estimado em diferentes períodos. Nos estágios iniciais da eletrificação, espera-se que os efeitos negativos sejam menores ou até insignificantes – de fato, o crescimento da demanda por PCMOs deve continuar em alguns países com baixa penetração de veículos elétricos. Haverá, então, um período de transição, marcado por um ponto de inflexão, muito provavelmente na segunda metade de 2030, quando o efeito dos veículos elétricos no mercado de óleos de motor para carros de passageiros será mais palpável.
Em contraste com a redução da demanda de PCMOs, o crescimento de EVs criará um mercado para fluídos de veículos elétricos. Essa nova geração de fluídos abordará os principais desafios apresentados pelos novos powertrains* elétricos (e-powertrains), que são sustentáveis (reduzindo a pegada de carbono), tribológicos, além de recursos de refrigeração.
*Powertrain é um sistema composto de diversos componentes – como motor, sistema de transmissão, bateria – essenciais para o movimento do carro.
“Os powertrains elétricos exigirão o desenvolvimento de novos fluídos para gerenciamento térmico”, diz Luzuriaga. “Alguns produtos lubrificantes, como fluídos de transmissão e graxas, continuarão sendo usados, mas deverão ser reformulados a fim de atender aos novos requisitos de desempenho; como a condutividade térmica, a resistência elétrica, a compatibilidade de material e uma melhor proteção contra desgaste”.
O relatório PCMO Market in 2050: A Long-Term Outlook, que deve ser publicado em Julho, incluirá uma avaliação da frota atual e projetada de veículos de passageiros nos principais mercados de países; análise de propriedade de veículos e características de uso nos principais mercados dos países; demanda atual e projetada de PCMOs nos principais mercados; penetração atual e projetada de veículos elétricos e impacto no mercado de PCMO; o tamanho atual e projetado da frota com compartilhamento de viagens e o impacto no mercado de PCMO; o efeito das metas de descarbonização na penetração de veículos elétricos e implicações no mercado de PCMO; perspectivas de mercado e oportunidades e desafios no mercado emergente de PCMO; e muito mais.
O estudo foi realizado em 14 mercados, sendo um deles o Brasil, conforme mostra a tabela abaixo.
Tabela 1. Mercados cobertos pelo estudo PCMO Market in 2050: A Long-Term Outlook, da Kline.
Para acessar a brochura do estudo, clique aqui. Caso queira saber mais o mercado de PCMOs no Brasil, e caso tenha interesse no estudo feito no país, entre em contato com a Factor-Kline.
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